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Além das mais de 233 mil mortes causadas por Covid-19 no Brasil e os quase 10 milhões de casos registrados da doença no país, a pandemia trouxe outros números alarmantes que acenderam o sinal vermelho em diversos setores, incluindo, o do entretenimento.
Segundo Doreni Caramori Júnior, presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape):
"No nosso caso, o setor está parado por obrigação. Não é que a gente não tem cliente, não é que teve uma mudança tecnológica que afastou as pessoas do entretenimento. O fato é que o setor está proibido de trabalhar."
"Nesse momento, nós somos o setor vulnerável da economia e se nada for feito, certamente a gente vai ser responsável por um desemprego enorme e por outras cadeias que são ligadas com a gente e que vão perder todo esse faturamento", afirma Doreni.
Há duas semanas, cerca de cinquenta profissionais do setor do entretenimento, principalmente do mercado sertanejo, se reuniram com o presidente Jair Bolsonaro e alguns ministros para pedir medidas.
Parado desde março, o setor pleiteia uma linha de crédito, entre outras propostas apresentadas para Gilson Machado, ministro do Turismo, e Mário Frias, secretário de Cultura.
Dani Ribas, diretora da Sonar Cultural Consultoria e consultora para planejamento e gestão de carreiras na música, relembra que o setor do entretenimento foi prejudicado desde o início da pandemia.
"A maior parte viu atividades sendo adiadas ou canceladas. E lembrando que todas essas atividades que foram simplesmente adiadas, ainda não aconteceram. A gente está há quase um ano sem que esse setor tenha conseguido se recuperar", analisa.
Ribas explica que, em março de 2020, logo na primeira semana de quarentena, realizou um levantamento em parceria com o instituto Data Sim. Nele, 536 empresas informaram se tiveram shows adiados e/ou cancelados naquela primeira semana de paralisação. Como resultado, observou que:
"Essas 536 empresas relataram que, naquela semana, foram afetados mais de 8 mil eventos, somando um público diretamente afetado de mais de 8 milhões de pessoas. E um prejuízo estimado, naquele momento, de R$ 483 milhões de reais."
"Claro que esse valor é um prejuízo pequeno se a gente pensar na extensão e na complexidade dessa cadeia produtiva. Esse número é só o levantado por essas 536 empresas já logo naquela semana", aponta Ribas.
Pra Doreni, da Abrape, é importante "reconhecer que a incerteza que prejudica o planejamento." "Se tiver uma imunização coletiva muito alta possibilita a volta de aglomerações mais rapidamente."
Para Dani Ribas, tudo o que foi feito em 2020 (lives, shows drive-in, entre outras iniciativas) não ajudou tanto as empresas a diminuírem seus prejuízos. "Não fechou o caixa dessas empresas, que já estão no vermelho há bastante tempo."
"Claro, não dá pra voltar ainda de maneira totalmente responsável. Por mais que esteja escrito em algum lugar que todos os protocolos serão cumpridos, os próprios protocolos não garantem a não transmissão", analisa Ribas.
Em 2020, artistas se renovaram e iniciaram uma série de lives. O formato – que ganha espaço novamente durante o carnaval -- pode ter causado algum esgotamento, mas tanto para Doreni quanto para Dani, eles vieram para ficar.
"A partir do momento em que as pessoas recorrem em massa a esse serviço e, algumas delas, são até patrocinadas, a indústria não abre mão desses formatos. A indústria só é uma grande indústria porque ela realmente se acomoda em relação às mudanças", analisa Dani.
"Elas vão perder força, mas não significa que ela será radicalmente abandonada."
Além do ponto de vista de transformação de mercado, Dani analisa o consumo diante da demanda.
"Eu vi excelentes shows pela televisão, conectada na internet, que nunca tinha tido a oportunidade de ver aquele artista. Agora, a experiência em casa substitui o show ao vivo? Claro que não."
Isso também vale para os cercadinhos, que foram construídos como tentativa para retomada de shows ao vivo e se adaptando ao protocolo de distanciamento. Ou até mesmo as bolhas que foram vistas no show do Flaming Lips.
"No futuro, pode ser que isso fique, que as pessoas gostem desse formato e paguem mais caro por isso", diz Doreni.
"Acredito em formatos desenvolvidos para conseguir atender a demanda durante o período em que a gente não puder atender da maneira que a gente atendia. Mas nada disso substitui nem financeiramente, nem em termos de entrega o que a gente fazia."
"O fato é que a demanda existe. Ela pode ser atendida por um operador regular ou ela vai acabar indo pra informalidade", defende o executivo.
Desde o segundo semestre de 2020, a associação realiza uma pesquisa com o público para avaliar o grau de disposição do consumidor em ir a eventos na pandemia. Segundo Doremi:
"Não tem como ignorar 58% das pessoas. Elas vão a um evento, você legalizando e regularizando ou não. E isso é a realidade."
"Não é que gente quer voltar a qualquer custo, nosso setor esperou 9 meses. E continua esperando, na verdade. Ninguém está fazendo aqui uma ameaça. O fato é que a gente tem convicção de regulamentar a retomada do setor, além de diminuir o problema econômico, aumenta os cuidados com saúde e com a legalidade. É diferente perder 10%, 15%. Nosso setor perdeu 100%."
Por Marília Neves, ao G1
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